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A Pista Verde | A. V. 8

terça-feira, 10 de abril de 2012

(Autor: Rodrigo Maia)

Anteriormente em Águas do Viana...

Cheguei pelo corredor escuro ao temível quarto 203. [...]
Olhei para a janelinha do convés e vi que parecia ser uma bela moça que estava lá. [...]
ela estava tão longe de mim que parecia sussurrar em meu ouvido. [...]
vi que era uma grande boca de um tipo de monstro marinho [...]

Quando comecei inclinar escutei um sussurro bem próximo e sem ecos me dizendo: “Vai me ajudar?” Mano! Foi aí que dei um grito e saí correndo com o lençol que me cobria pro corredor. [...]

Fui acordando no dia seguinte ao som de pássaros, cavalos andando na rua, sino da Maria Fumaça junto de sua sirene nada escandalosa.[...]
[...] Vi algo que nunca tinha visto na minha vida, assim pessoalmente. Estava tão fácil assim na frente da minha janela algo tão belo e raro.




Eu vi no momento em que chegou no galho daquela grande árvore que dava pra ver do meu quarto. Lá estava um pássaro com duas enormes caudas, pelo menos parecia um tipo de cauda. Bom, eram duas penas grandes, pra ser mais exato. Suas penas eram de um tom esverdeado e alguns detalhes azuis e amarelos no corpo todo.
Estava ali parado olhando para os lados certificando-se que estava seguro.


Esfreguei os meus olhos para ver melhor e logo me apressei em me vestir, tirar as pilhas da tomada e pegar minha humilde câmera Polaroid (aquelas câmeras que imprimem a foto na hora). Coloquei minha mochila nas costas, peguei a chave do quarto e saí correndo até o corredor fechando a porta.... “Ops! O guarda-chuva!” Voltei correndo para pegá-lo no banheiro e saindo do quarto, dei uma olhadinha em baixo da cama me lembrando do que queria esquecer.


Desci correndo as escadas e logo encontrei o quintal do hotel. Quando cheguei, vi aquela torre e me admirei em ver como ela era alta, não parecia tão alta ontem a noite - pensei.
Olhei para minha janela tentando lembrar como estava vendo o quintal lá de cima e logo pude reconhecer a árvore. “Ahaa... ele ainda está lá!” Falei comigo mesmo.


Coloquei o guarda-chuva entre as pernas e levantei minha camera e … “Droga! Não liga! Por quêêêê? Justo agora?”
Abri a máquina e vi que as pilhas estavam viradas para o mesmo lado. Rindo de mim mesmo, peguei rapidamente a pilha que estava errada, derrubei o guarda-chuva no chão e desesperado com a dificuldade de conseguir colocá-la no lugar, dei um tapa pra fechar rapidamente a camera. Olhei para cima e...


“Nãoooo, que droga! Mil vezes droga!” O pássaro havia sumido. “Eee cabeção hein...” -me culpei.


Já que não podia fazer nada, fui na recepção devolver a chave do quarto 203 para o recepcionista quando este me perguntou: “Mas já vai embora? Eu avisei... Mas você pode mudar de quarto..” Dei um sorriso meio debochado e disse: “Eu sei que cidades turísticas precisam manter lendas vivas, mas eu queria um lugar mais normalzinho...” Completei no pensamento: “um lugar que não apelasse muito, né? poxa...”

O recepcionista insistindo disse: “Mas você pode mudar de quarto...”
Eu: “Não, obrigado. Não quero mudar. Digamos que não me senti bem neste lugar.”
Recepcionista: “Mas tentamos te avisar daquele quarto...” Sabe quando vc quer cancelar algo via telefone e dá aquela raiva pq quanto mais vc tenta cancelar, mais novas propostas eles te mandam? Pois é, eu já estava começando a me irritar, até que resolvi falar: “Aaaaa qual é moço? Já sou bem grandinho pra cair nesses truques...”
“Truques?” Respondeu ele com uma cara desapontada com as mãos abertas viradas pra cima.
O recepcionista respirou fundo e percebendo que dessa toca não saía coelho disse: “Um momento, vou pegar a sua conta.”


Quando ele se virou senti alguém me cutucar. Era um cara de óculos escuro, segurando um palito de dente na boca e vestido como um tira americano.
“Olá senhor. Meu nome é André e sou de uma divisão especial da polícia. Gostaria apenas de deixar o meu cartão com você, caso algum dia você veja algo fora do comum.” Nesse momento ele tirou os óculos escuro e o palito de dente e disse: “Fora do comum meeesmo...certo?”
Senti-me tentado a contar da apelação que o hotel faz com os hóspedes, mas eu estranhando tudo aquilo simplesmente respondi meio engasgado com aquela escorregada de voz de adolescente: “Tá... grham...” Engrossando a voz rapidamente: “Tá bom!”


Aquele policial colocou os óculos escuro, sorriu com o canto direito da boca e foi embora terminando de roer seu palito de dente.


“RAFA!”
“Que estranho. Eu conheço essa voz. Mas são poucos os que me chamam de Rafa” Pensei comigo.
Virei-me e vi Bruna, uma antiga colega. Achei muito estranho que ela estivesse naquele hotel numa pequena cidade desconhecida. Afinal, qual é a probabilidade de encontrar um conhecido num lugar desses.


“Bruna?”
“Sim sou eu!”
“Nossa.. Oi, tudo bem?”
“Aaaa... poderia tá melhor né?”
“Mas o que vc faz aqui nesse fim de mundo?”


“Ah... nem me fale.. é uma longa história.” Ela puxando meu braço me disse: “Mas você tem vir aqui, rápido.. acho que vc vai gostar”


Ela me puxou correndo e me fez deixar o recepcionista falando sozinho.. “Hey.. Sua conta senhor!”


Eu gritei: “Pera aí!”


Chegamos no quintal e Bruna me disse: “Ué, estava bem aqui.”
Eu: “O quê?”


“Era um pássaro...”
“... verde de duas caldas?” Interrompi ela.


“Ééé.. Vc viu ele?“
“Vi, mas perdi de vista”
“Hihi.. eu vi vc agora pouco todo desajeitado com sua camera..”
Fiquei sem graça e tentando me justificar ela deu um berro: “ALI!”
Virei para trás e vi o pássaro em cima da placa de sinalização do banheiro do hotel.
Peguei minha câmera e ele voou para o portão da entrada da garagem.
“Vamos atrás dele, vamos!” Disse Bruna me encorajando.


Quando chegamos perto do pássaro, ele saiu voando para a rua da frente e pousou em cima da placa de cruzamento da Maria-Fumaça. Atravessamos a rua e ele voou até a outra placa de cruzamento no quarteirão seguinte. Por um momento, achei que ele sumiria novamente.
Chegamos perto dele e ele voou para um trevo na rua perto dos trilhos do trem.


Eu e Bruna nos olhamos e comentei: “Tem alguma coisa errada...”
Bruna me disse: “Parece que ele quer que sigamos ele.”


“Não... besteira. Acho que pássaros não são tão inteligentes assim.”
Quando me virei... “Onde está ele?”
Bruna berrou: “Aaaaaaa... ali! Ali!”
Botei a mão no ouvido fazendo uma cara de dor perguntando aonde, mas logo vimos ele virando a esquina.


Corremos atrás daquele pássaro, e como corremos. Por fim ele parou em cima do muro de uma mansão. Mirei e finalmente consegui dar um clique.
“Uhuuu!” Dei um grito de felicidade. Procurei Bruna pra comemorar e vi que ela estava bem próxima do pássaro. Fiquei admirado por ele não sair voando.
“Rafa. Acho que ele queria nos trazer até aqui.”
“Coincidência”
“Não sei.. é estranho...”
“Pq?”
“Minha vó cantava uma música para seguir o pássaro verde, mas sempre achei que era por causa do ditado”
“Que ditado?”
“Vc nunca ouviu alguém falar assim: Vc viu o passarinho verde hoje?”

Nesse momento passou um flashback na minha mente que me embaraçou por um tempo. Lembrei que falavam isso quando Bruna era minha única amiga da escola. Alguns me zoavam. Claro que tive uns amigos sim, mas foi mais tarde.
“Rafa, ele entrou!”
“Tudo bem já tirei a foto que queria.”
“Deixa eu ver!”
Dei a foto que ainda estava aparecendo no papel.
“Rafa, o que é isso?”
“O quê? Borrou?”
Vi na foto o pássaro, o muro, as árvores perto e... “O que vc viu?”
“O que é essa luz roxa na janela?”
Olhei muito preocupado sentindo calafrios e logo disse... “Não é possível...”
“O que foi? Vc já viu isso?”
“Vamos embora daqui!” Virei-me pra ir quando..
“Rafa! Olha isso aqui...”


Dei aquela engolida de saliva e virei-me dizendo: “ O quê?”
Havia uma plaquinha em cima do portão da casa que tinha gravado um tipo de letra Q e coisas escritas em volta. Parecia japonês misturado com alguma escrita egípcia.


“Que língua é essa?” Perguntei à Bruna.


“Não é possível...”
“Vc já viu isso?”
“Meu avô e meu pai nos abandonou. Algumas coisas do meu avô tinha esse símbolo.”
“Será que ele mora aí?”
“Acho que não, nos disseram que ele morreu...”
“Nossa, meus pêsames... Desculpe perguntar, mas morreu do quê?”
Ela me olhou com uma cara de espanto, ao mesmo tempo com uma cara de alguém que acabou de descobrir algo.
“Nunca encontraram o corpo dele...”
“Vc não acha que ele esteve o tempo todo morando nessa mansão, acha?”
“É o que vamos descobrir.”
“Não! Não podemos entrar.”
Enquanto falava ela girava a maçaneta do portão até que escutamos um: “clack.. nhéééé!”
Bruna me olhou com um sorriso de sapeca e disse sussurrando: “Está abeeeerta..”


E agora? Estou em uma cidade esquisita, em um hotel insano e agora em frente a uma mansão com uma garota que fazia tempo que não via. Não houve uma conversa normal desde que cheguei aqui. Nessa hora,  pensava na lista de tarefas que estabeleci a mim mesmo:
Devolver o guarda-chuva do Sr. Divino e ir a Montanha Sagrada tirar fotos daqueles insetos raros.


Em uma casa ali perto, um carro saia da garagem, quando um rottweiler saiu da garagem, começou a latir e correr em nossa direção. “Aaaaa! Corre! Correeee!” Sem querer, mas querendo, nos abrigamos dentro da mansão. Foi tão rápido que eu nem acreditei que entramos lá.


Demos um pulo para trás quando o cachorro chegou na porta latindo e farejando na parte debaixo do portão. O pássaro saiu voando desesperado no meio dessa bagunça também e acabou entrando na janela que tinha aquela luz.


“Vamos explorar, já que estamos aqui.”
“Bruna, não somos mais crianças, podemos ser presos.”

Continua...



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Episódios
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