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A Divina Mansão pt2 [AV10]

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

(Autor: Rodrigo Maia)
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Abrimos a porta do fundo enquanto Bruna perguntava:
“Será que nos viram?”

“Não sei.. por aqui!” Indiquei umas escadas a esquerda depois da cozinha em que estávamos.
Olhamos para trás e vimos que tinha aquela entradinha de cachorros na porta... que azar!

“GRRRRR! WHOLF! WHOLF! GRRRR"

“SOBE! SOBE!”

Subimos as escadas correndo enquanto aquele cão escorregava no piso (era engraçado, mas na hora eu nem pensava em rir).

Deixei Bruna passar minha frente e logo ela encontrou uma porta meio aberta: “Por aqui Rafa!”
Eu estava correndo logo atrás dela. Olhei para a porta que ela abrira e vi um rápido feixe de luz roxa em baixo daquela porta. Fiquei mais apavorado ainda, mas na emoção e na adrenalina tive mais medo do rotweiller do que daquela luz misteriosa.

Entramos e fechamos a porta enquanto escutávamos o cachorro rosnando e batendo as patinhas na porta.
De olhos fitos para a porta andamos de costas enquanto escutávamos bem baixo alguém dentro da casa gritar: “Thor? Hey Thor?”

“Deixe que eu tiro ele lá de cima, pode eshperar aqui meshmo.”
“Mas Sr. Divino ele é grande. Ele pode até derrubar o senhor.”

Thor continuava insistindo em entrar onde estávamos:
“GRRRRRR... SNIFF ... SNIFF”

“Thooor! Seu papai eshtá chamando... venha garoto!”

Continuamos andando de costas e esbarramos em uma cômoda.

“Bruna! Olhe isso daqui...”
“Huh? É o símbolo do meu avô...”

A cômoda era de madeira e tinha a cor bem clara, nela havia vários porta-retratos em cima e logo atrás na parede havia aquele símbolo pela metade que lembrava uma letra ‘Q’. Era quase do tamanho da cômoda.
“Você conhece o Sr. Divino, Bruna?”
“Não...”
“Mas pq ele também tem o símbolo do seu avô?”
“Não sei... por um momento achei que ele pudesse estar vivo.”
“Mas não sabemos ainda.”
“Melhor nos entregarmos...”
“Não Bruna! Sempre quando achamos não ter saída é que a...”
“... aventura entra...” Falamos juntos essa parte.

“É. Vc sempre me falava isso Rafa. Vc me ajudou a ser mais aventureira. O que aconteceu com vc? Pq está tão medroso ultimamente?”

Fiquei sem graça (não tinha parado para perceber isso também) e pra me desculpar comecei a mexer nos retratos e num vasinho de planta que tinha ali quando comecei a me explicar:

“Não... num é... é que...”

<cleck>

“Rafa?”
“Não quebrei o galho da planta... ele já tava assim.”
Bruna veio e botou a mão pra tentar colocar no lugar o galhinho, mas quando ela desentortou fez um barulho de metal como se fosse algo se soltando:

<treck-trim>

Bruna me olhou com aquele olhar de sorriso aventureiro e eu logo disse.

“A não... não, não, não, não, não...”

“O quê?? Deve ter uma passagem secreta...”

“Bruna... não... já vimos esse filme antes. Vc tinha razão... é melhor nos entregarmos, pq  podemos piorar a situação...”

“ 'Quando não há saída é que a aventura entra'. Lembra?”
“Não, Bruna. Éramos crianças cheias de imaginação...”

A cômoda de repente deu uma tremidinha afastando-se da parede como um vagão de trem de mina.
Eu me aproximei e bati na parede.

<tok tok>

“É oca...” Dizia eu.

<reeenk shuiiiinnnnnnn>

“RAFA!”
“BRUNAA!”

A cômoda deitou no chão se afastando mais da parede e derrubou  Bruna fazendo-a cair em cima daquela cômoda esquisita. Foi tão rápido o movimento que  vi a cômoda vindo com tudo em minha direção. Saí da frente e...

“Aaaaaaaaaaaa!” Bruna gritava.

<brooooommmm scroooobfh>

A cômoda quebrou parte da parede e levou Bruna com ela para aquele compartimento secreto.
“BRUNAAAA!”

“AAAAAAAHHH”

Bruna gritou até que escutamos outro: <brooom!>

Fui e me aproximei do rombo na parede preocupado com toda aquela situação e vi que estava muito escuro lá dentro. Enfiei minha cabeça lá e vi uma enorme lua no horizonte a minha direita. Foi a coisa mais esquisita que já vi na vida, pois era de manhã e ali eu vi uma linda lua, estrelas e uma poeira nas estrelas meio esverdeada e roxa.

Na minha frente vi algo mais estranho...

“Bruna! Bruna??”

Parecia que o tempo tinha parado, pq ela estava segurando na cômoda só com as mãos e o seu corpo estava na horizontal no ar. Não existiam trilhos de vagão lá dentro, ela simplesmente havia saltado batendo tão forte que entrou um pouco numa outra parede que estava de frente.

Tinha outra coisa estranha... Parecia que Bruna estava com um vestido meio rosa e na hora pensei: “Não me lembro dela estar com essa roupa. É verdade, homens não reparam em roupa.”

Resolvi “gritar” baixo (como se fosse adiantar depois de todo aquele barulho todo): “Bruna, vc está bem?”

“Raaafa...” Ela me respondeu tão baixo quanto eu, mas eu podia ouvir claramente, parecia haver um tipo de boa acústica naquele lugar.
“Oi.”
“Rafa, eu morri?”
“Não... quero dizer... não sei..  É estranho... vc está parada no ar.” Eu dizia isso olhando para baixo para procurar o chão, mas não via nada. Tava claro que era um precipício. (Dentro de uma casa?)
“Bruna, não olhe para baix... Bru-Bruna? O que vc está fazendo?”

Ela soltou da cômoda devagar e flutuando virou-se para mim e disse: “Rafa, não tem gravidade... que lugar é esse?”

“Hã?”

Ela se empurrou para voltar em minha direção, mas parecia que ela estava mais abaixo de mim e quanto mais aproximava, mais ela descia.

“Bruna, vc tá caindo... eeer... eu acho...”

“Droga! Rápido Rafa, me segure!”

Tentei esticar com o guarda-chuva para ela me alcançar mais ela ainda estava longe.

<cleck, cleck>

“Droga! Eles estão entrando aqui.”

Olhei ao redor pra ver como pegar a Bruna, mas não achava nada. De repente nós dois vimos um tijolo saindo do ar e voltando para onde ele estava antes de quebrar e vi ele se encaixando.
De repente veio outro, outro e mais outro.

“Rápido Rafa, estou caindo... acho que esse lugar vai fechar!”

A porta começou a fazer barulho de que realmente estava abrindo e ao mesmo tempo a cômoda começou a voltar também.

“RAFA! RAFA?”

“Calma! Calma!”

"GRRRRR" O cão ainda estava lá na porta e agora? E agora????
<cleck, cleck>

A cômoda estava mais perto e o buraco mais fechado.
A porta do quarto abriu...


“RAFAAAA!”


“DROOOGA!”








Eu pulei...












A cômoda...






me acertou no ombro quando pulei ...







e a única saída fechou-se magicamente...



... começamos a cair gradativamente mais rápido e mais rápido.

“Rafa!? SOCORRO!”

Fiquei tão atônito que nem gritava, só ficava com a mão no ombro pra sarar a dor e sentindo o vento vindo de baixo pra cima.

E sentia esse vento vindo cada vez mais rápido.

Pensei:
“Pronto, é o fim.

Vamos morrer....”

Continua...


Episódios
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Ep. 9 A divina mansão 
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A Divina Mansão pt.1 [AV9]

sábado, 14 de julho de 2012

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(Autor: Rodrigo Maia)




“Bruna, vamos sair daqui!”

Ela com um sorriso de moleque fingia não me ouvir.
Daí ela continuou subindo as escadas do jardim, da varanda (sei lá o que era isso) para entrar na mansão.

Peguei em sua mão e puxando-a falei: “Deve ter cachorro aqui...”

“Olha Rafa! O que tem ali atrás?”

“Éhhr, não sei... tal-ve...”

Ela virou para trás e fez um sinal para que ficasse em silêncio.

“Acho que ouvi um gato.”-disse ela sussurrando.

Descemos a escada que mal subimos indo para a direita onde parecia ter um quintal. Quando entramos no quintal, vimos um balanço cheio de folhas e com um tipo de trepadeira colorida bem robusta envolvendo as traves do balanço. Um pouco mais adiante vimos um tipo de casa de vidro que tinha tantas plantas e árvores saindo de dentro da casa que a revolvia de tal forma escondendo sua arquitetura de vidro.

Lembra essa mansão, mas não é essa.


“Miuuuiuuu... orrghhhiuuuuum”

“Ooo... gato?” disse Bruna espantada.

“Acho que isso não é um gato, deve ser uma criança brincando com a gente.”

“Será?”

“Oooorrgnhauuuummm”

“É. Melhor irmos, antes que ela chame os pais dela...” Antes de terminar a frase lá estava a Bruna esgoelando: “Oi amiguinho! Vc quer brincar?”

E eu fiquei mais atrás e desesperado tentei fazer ela me ouvir "gritando" com sussurros e gesticulando para ela olhar pra mim: “Nã-o.. Pssssiiiit... Xiiiuuu... Fi-ca... Ca queta! Ow... psssiiiu!”

“Droga.. ela entrou na casa do Tarzan...” falei comigo enquanto olhava para trás quando percebi que a maçaneta do portão que entramos estava se mexendo.

Dei uma corrida em silêncio atrás de Bruna sussurrando:

“Bruuna... pssiiiiu... hey... me ouve menina! Alguém está chegando... hey...”

Bruna estava olhando para os lados e para cima admirando a floresta caseira e algumas borboletas bem coloridas dentro da casa. Cheguei sussurrando e cutucando: “Alguém entrou na casa...”

Aí escutamos alguém na entrada da casa falando... só me lembro de ter ouvido algo como: “Oi garoto. Como vc tá? Quer brincar um pouco aqui no quintal com Pim-Pim?” E olhei para cara da Bruna e ela olhou para mim tentando entender o que estava acontecendo. Aí aquela conversa misteriosa continuou: “Não Thor... não tem nada nessa sacola para vc... vai pra lá, vai?!”

Bruna me cutucou e apontou para um dos cantos da casa de vidro e vimos pelo reflexo que era aquele cão que nos atacou na rua. DROGA! Agora ele estava vindo em nossa direção... “que melecaaa...”

Aquela casa de vidro com bastante mato
Com um grito em forma de suspiro para não chamar atenção entramos mais fundo naquela casa, mas não achávamos outra saída. “Melhor pedirmos socorro.” Mas o espírito aventureiro de Bruna não quis, ela fez sinal para esperarmos mais um pouco. Escutamos o cão farejando, e o som ficava mais alto, mais alto e de repente ele parou de farejar.

Depois de um tempo de silêncio ele começou a rosnar e começou a se aproximar devagar, até que...

“Thor? Tho-or!”

“Hãn?” Eu e Bruna falamos.

“Vem cá garotão!”

Aquele cão saiu as pressas com uma felicidade e na mesma hora eu e Bruna ficamos aliviados escorregando no chão: “Aaaaaaaahh..."
"Bom que o dono chegou...”

Aí ouvimos aquela conversa distante:

“... pois é... sem querer eu deixei a porta aberta e ele fugiu...”


“... aé? Que coisa, eu também eshqueci o portão aberto hoje... ainda bem que o Thor eshtá aí pra vigiar a vizinhança. Aaashiashiashiashia...”

Logo comentei:

“Sr. Divino?”

“Quem?” Indagou Bruna

“Grrrrrrrrmmmmnhouuurrrgggggrrr”

“O que é isso?” Perguntei a Bruna.

“Aaaaaaah!!!!!... hmmmm!!!!” Ela começou a gritar, mas tapei a boca dela a tempo fazendo: “ shiiiiiuuu...”

Aí ela só apontou em direção as minhas costas.

Percebi que no meu ombro havia um tipo de galho, corda, rabo.. algo que não parecia com nenhum rabo de gato pra falar a verdade.

Parecia mais uma planta carnívora... “Planta??”

Com um grito silencioso forçado puxei a Bruna com tudo e saímos correndo daquela casa de vidro e fomos em direção a saída, logo vimos o moço...nossa, era o Sr. Divino mesmo... ele estava de costas pra gente conversando com o dono do cão. Devagar recuamos de costas até que o cão que brincava com alguma coisa lá fora nos viu e disparou a correr em nossa direção de novo.

Foto de ~leosedf
"WHOLF! WHOLF!"

"CORRE!"

“Thor!? Não... Fiiiiuuuuiiii! VOOLTA RAPAZ!” Gritava o dono.



Nós viramos e subimos uma outra escadinha que dava num tipo de porta dos fundos.



Desesperados entramos pelos fundos da mansão.

Episódios
1º Temporada - Contos da Aldeia Vila Verde: 

Ep. 8: A pista verde
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Ep.10 A divina mansão 2



A Pista Verde | A. V. 8

terça-feira, 10 de abril de 2012

(Autor: Rodrigo Maia)

Anteriormente em Águas do Viana...

Cheguei pelo corredor escuro ao temível quarto 203. [...]
Olhei para a janelinha do convés e vi que parecia ser uma bela moça que estava lá. [...]
ela estava tão longe de mim que parecia sussurrar em meu ouvido. [...]
vi que era uma grande boca de um tipo de monstro marinho [...]

Quando comecei inclinar escutei um sussurro bem próximo e sem ecos me dizendo: “Vai me ajudar?” Mano! Foi aí que dei um grito e saí correndo com o lençol que me cobria pro corredor. [...]

Fui acordando no dia seguinte ao som de pássaros, cavalos andando na rua, sino da Maria Fumaça junto de sua sirene nada escandalosa.[...]
[...] Vi algo que nunca tinha visto na minha vida, assim pessoalmente. Estava tão fácil assim na frente da minha janela algo tão belo e raro.




Eu vi no momento em que chegou no galho daquela grande árvore que dava pra ver do meu quarto. Lá estava um pássaro com duas enormes caudas, pelo menos parecia um tipo de cauda. Bom, eram duas penas grandes, pra ser mais exato. Suas penas eram de um tom esverdeado e alguns detalhes azuis e amarelos no corpo todo.
Estava ali parado olhando para os lados certificando-se que estava seguro.


Esfreguei os meus olhos para ver melhor e logo me apressei em me vestir, tirar as pilhas da tomada e pegar minha humilde câmera Polaroid (aquelas câmeras que imprimem a foto na hora). Coloquei minha mochila nas costas, peguei a chave do quarto e saí correndo até o corredor fechando a porta.... “Ops! O guarda-chuva!” Voltei correndo para pegá-lo no banheiro e saindo do quarto, dei uma olhadinha em baixo da cama me lembrando do que queria esquecer.


Desci correndo as escadas e logo encontrei o quintal do hotel. Quando cheguei, vi aquela torre e me admirei em ver como ela era alta, não parecia tão alta ontem a noite - pensei.
Olhei para minha janela tentando lembrar como estava vendo o quintal lá de cima e logo pude reconhecer a árvore. “Ahaa... ele ainda está lá!” Falei comigo mesmo.


Coloquei o guarda-chuva entre as pernas e levantei minha camera e … “Droga! Não liga! Por quêêêê? Justo agora?”
Abri a máquina e vi que as pilhas estavam viradas para o mesmo lado. Rindo de mim mesmo, peguei rapidamente a pilha que estava errada, derrubei o guarda-chuva no chão e desesperado com a dificuldade de conseguir colocá-la no lugar, dei um tapa pra fechar rapidamente a camera. Olhei para cima e...


“Nãoooo, que droga! Mil vezes droga!” O pássaro havia sumido. “Eee cabeção hein...” -me culpei.


Já que não podia fazer nada, fui na recepção devolver a chave do quarto 203 para o recepcionista quando este me perguntou: “Mas já vai embora? Eu avisei... Mas você pode mudar de quarto..” Dei um sorriso meio debochado e disse: “Eu sei que cidades turísticas precisam manter lendas vivas, mas eu queria um lugar mais normalzinho...” Completei no pensamento: “um lugar que não apelasse muito, né? poxa...”

O recepcionista insistindo disse: “Mas você pode mudar de quarto...”
Eu: “Não, obrigado. Não quero mudar. Digamos que não me senti bem neste lugar.”
Recepcionista: “Mas tentamos te avisar daquele quarto...” Sabe quando vc quer cancelar algo via telefone e dá aquela raiva pq quanto mais vc tenta cancelar, mais novas propostas eles te mandam? Pois é, eu já estava começando a me irritar, até que resolvi falar: “Aaaaa qual é moço? Já sou bem grandinho pra cair nesses truques...”
“Truques?” Respondeu ele com uma cara desapontada com as mãos abertas viradas pra cima.
O recepcionista respirou fundo e percebendo que dessa toca não saía coelho disse: “Um momento, vou pegar a sua conta.”


Quando ele se virou senti alguém me cutucar. Era um cara de óculos escuro, segurando um palito de dente na boca e vestido como um tira americano.
“Olá senhor. Meu nome é André e sou de uma divisão especial da polícia. Gostaria apenas de deixar o meu cartão com você, caso algum dia você veja algo fora do comum.” Nesse momento ele tirou os óculos escuro e o palito de dente e disse: “Fora do comum meeesmo...certo?”
Senti-me tentado a contar da apelação que o hotel faz com os hóspedes, mas eu estranhando tudo aquilo simplesmente respondi meio engasgado com aquela escorregada de voz de adolescente: “Tá... grham...” Engrossando a voz rapidamente: “Tá bom!”


Aquele policial colocou os óculos escuro, sorriu com o canto direito da boca e foi embora terminando de roer seu palito de dente.


“RAFA!”
“Que estranho. Eu conheço essa voz. Mas são poucos os que me chamam de Rafa” Pensei comigo.
Virei-me e vi Bruna, uma antiga colega. Achei muito estranho que ela estivesse naquele hotel numa pequena cidade desconhecida. Afinal, qual é a probabilidade de encontrar um conhecido num lugar desses.


“Bruna?”
“Sim sou eu!”
“Nossa.. Oi, tudo bem?”
“Aaaa... poderia tá melhor né?”
“Mas o que vc faz aqui nesse fim de mundo?”


“Ah... nem me fale.. é uma longa história.” Ela puxando meu braço me disse: “Mas você tem vir aqui, rápido.. acho que vc vai gostar”


Ela me puxou correndo e me fez deixar o recepcionista falando sozinho.. “Hey.. Sua conta senhor!”


Eu gritei: “Pera aí!”


Chegamos no quintal e Bruna me disse: “Ué, estava bem aqui.”
Eu: “O quê?”


“Era um pássaro...”
“... verde de duas caldas?” Interrompi ela.


“Ééé.. Vc viu ele?“
“Vi, mas perdi de vista”
“Hihi.. eu vi vc agora pouco todo desajeitado com sua camera..”
Fiquei sem graça e tentando me justificar ela deu um berro: “ALI!”
Virei para trás e vi o pássaro em cima da placa de sinalização do banheiro do hotel.
Peguei minha câmera e ele voou para o portão da entrada da garagem.
“Vamos atrás dele, vamos!” Disse Bruna me encorajando.


Quando chegamos perto do pássaro, ele saiu voando para a rua da frente e pousou em cima da placa de cruzamento da Maria-Fumaça. Atravessamos a rua e ele voou até a outra placa de cruzamento no quarteirão seguinte. Por um momento, achei que ele sumiria novamente.
Chegamos perto dele e ele voou para um trevo na rua perto dos trilhos do trem.


Eu e Bruna nos olhamos e comentei: “Tem alguma coisa errada...”
Bruna me disse: “Parece que ele quer que sigamos ele.”


“Não... besteira. Acho que pássaros não são tão inteligentes assim.”
Quando me virei... “Onde está ele?”
Bruna berrou: “Aaaaaaa... ali! Ali!”
Botei a mão no ouvido fazendo uma cara de dor perguntando aonde, mas logo vimos ele virando a esquina.


Corremos atrás daquele pássaro, e como corremos. Por fim ele parou em cima do muro de uma mansão. Mirei e finalmente consegui dar um clique.
“Uhuuu!” Dei um grito de felicidade. Procurei Bruna pra comemorar e vi que ela estava bem próxima do pássaro. Fiquei admirado por ele não sair voando.
“Rafa. Acho que ele queria nos trazer até aqui.”
“Coincidência”
“Não sei.. é estranho...”
“Pq?”
“Minha vó cantava uma música para seguir o pássaro verde, mas sempre achei que era por causa do ditado”
“Que ditado?”
“Vc nunca ouviu alguém falar assim: Vc viu o passarinho verde hoje?”

Nesse momento passou um flashback na minha mente que me embaraçou por um tempo. Lembrei que falavam isso quando Bruna era minha única amiga da escola. Alguns me zoavam. Claro que tive uns amigos sim, mas foi mais tarde.
“Rafa, ele entrou!”
“Tudo bem já tirei a foto que queria.”
“Deixa eu ver!”
Dei a foto que ainda estava aparecendo no papel.
“Rafa, o que é isso?”
“O quê? Borrou?”
Vi na foto o pássaro, o muro, as árvores perto e... “O que vc viu?”
“O que é essa luz roxa na janela?”
Olhei muito preocupado sentindo calafrios e logo disse... “Não é possível...”
“O que foi? Vc já viu isso?”
“Vamos embora daqui!” Virei-me pra ir quando..
“Rafa! Olha isso aqui...”


Dei aquela engolida de saliva e virei-me dizendo: “ O quê?”
Havia uma plaquinha em cima do portão da casa que tinha gravado um tipo de letra Q e coisas escritas em volta. Parecia japonês misturado com alguma escrita egípcia.


“Que língua é essa?” Perguntei à Bruna.


“Não é possível...”
“Vc já viu isso?”
“Meu avô e meu pai nos abandonou. Algumas coisas do meu avô tinha esse símbolo.”
“Será que ele mora aí?”
“Acho que não, nos disseram que ele morreu...”
“Nossa, meus pêsames... Desculpe perguntar, mas morreu do quê?”
Ela me olhou com uma cara de espanto, ao mesmo tempo com uma cara de alguém que acabou de descobrir algo.
“Nunca encontraram o corpo dele...”
“Vc não acha que ele esteve o tempo todo morando nessa mansão, acha?”
“É o que vamos descobrir.”
“Não! Não podemos entrar.”
Enquanto falava ela girava a maçaneta do portão até que escutamos um: “clack.. nhéééé!”
Bruna me olhou com um sorriso de sapeca e disse sussurrando: “Está abeeeerta..”


E agora? Estou em uma cidade esquisita, em um hotel insano e agora em frente a uma mansão com uma garota que fazia tempo que não via. Não houve uma conversa normal desde que cheguei aqui. Nessa hora,  pensava na lista de tarefas que estabeleci a mim mesmo:
Devolver o guarda-chuva do Sr. Divino e ir a Montanha Sagrada tirar fotos daqueles insetos raros.


Em uma casa ali perto, um carro saia da garagem, quando um rottweiler saiu da garagem, começou a latir e correr em nossa direção. “Aaaaa! Corre! Correeee!” Sem querer, mas querendo, nos abrigamos dentro da mansão. Foi tão rápido que eu nem acreditei que entramos lá.


Demos um pulo para trás quando o cachorro chegou na porta latindo e farejando na parte debaixo do portão. O pássaro saiu voando desesperado no meio dessa bagunça também e acabou entrando na janela que tinha aquela luz.


“Vamos explorar, já que estamos aqui.”
“Bruna, não somos mais crianças, podemos ser presos.”

Continua...



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Episódios
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Ep. 9: A divina mansão



A carta anexa | A. V. 7

domingo, 5 de fevereiro de 2012

(Autor: Rodrigo Maia)



Em uma folha anexa...

Oi! Eu sou a Bruna.
Estou aqui pra contar como conheci o Rafael... ops Roger Rafael.
Não sei porque ele prefere Roger. Resolvi escrever aqui porque para onde estamos indo acho que não poderemos levar esse diário. Se algo acontecer conosco, pelo menos saberão no que nos metemos por esse diário.

Bom, minhas férias estavam maaaraaavilhosas *-*
Estava na França, numa cidadezinha chamada Vichy. Pelo menos na parte urbana que fiquei parecia pequena. É uma cidade muito legal. Tem o longo rio Lac d’Allier que divide a cidade e tem uma fonte de água com um gosto muito estranho. Dizem que essa água estranha é boa para o intestino, rim, pulmão... alguma coisa assim.
O motivo principal de estarmos lá era a minha avó. Ela está muito doente e de cadeira de rodas, coitada, apesar de não estar muito velha.. ela está chegando nos 70 agora.

Fonte Vichy
As vezes ela conta histórias legais, mas nossa mãe diz que é caduquice dela.
Caduquice ou não, eram histórias realmente interessantes. O problema é que ela acreditava tanto que se colocava nas histórias.

Bom, ela cismou durante uns 4 dias diretos que queria ir para Águas do Viana, a terra que ela e meu avô moravam. O nosso avô nos abandonou assim como o meu pai. Hoje vivo com minha mãe, minha vó e minha irmãzinha de 7 anos.

É, tivemos que deixar a cidade de Vichy para voltar para o Brasil numa cidade que ninguém sabe que existe! ¬¬

Fazer o quê, viemos para cá!

Fomos para o hotel que ficávamos de costume, um que tem uma grande chaminé. Para chegarmos no hotel, temos que atravessar uma pontezinha e todas as férias que passamos por lá minha avó começa a falar que o vovô aparece ali de vez em quando para vê-la, mas que ele não foi visitá-la nas últimas férias. Esse fato a deixou muito ansiosa e eufórica. Minha mãe, inconformada, dizia para ela não confundir a cabeça da Gabi, aí era nessas horas que minha avó repetia mais alto gritando que era ele, era ele, era ele!

Estava chovendo um pouco, mas ouvíamos vários estrondos também. Chegamos no hotel e ficamos arrumando as malas num quarto no térreo e a Gabi ficava pulando na cama, fazendo aquelas molequices que acabava nos atrapalhando.
Minha mãe disse: - Ga-bri-e-la!
Na mesma hora, ela juntou os pés no ar caindo sentada com as pernas dobradas na cama.
Colocando a mão na boca e se contorcendo toda com um sorriso de sapeca falou: - O queeÊ?
Mãe: -Vai levar sua avó pra passear no jardim, vai?
Ela deu um pulo de alegria, colocou as pantufas e começou a empurrar a vovó pra fora do quarto.
- E a opinião da velha aqui, não vale? Brincava minha avó sendo empurrada por minha irmã.


Eu e minha mãe trocamos uma risadinha e começamos a conversar.
Alguns minutos mais tarde, minha mãe pensando alto disse:
- Ai, deixa eu ir atrás daquelas duas, senão elas vão nos colocar em encrencas.

Minha mãe abriu a porta e só aí pude ouvir o que minha mãe estava ouvindo. A vóvó estava contando histórias para alguém lá na recepção. É, o nosso quarto era bem perto da recepção.

Logo escutei minha mãe xingando a vovó: -Já chega mamãe, deixa o moço em paz, depois você conta suas lendas.

Daí já sabe né? Minha vó começou a gritar: -Meu marido está naquele navio! Eu ouvi ele me chamar de lá! Era ele! Era ele! Era ele!
E eu só ouvindo e rindo com aquela sensação tediosa: -ai ai, de novo...

Quando elas chegaram aqui no quarto aconteceu algo estranho.
Minha avó pegou a única peça mais valiosa para ela e pediu para Gabi entregar para o moço que iria entrar no quarto 203. A Gabi pegou e foi correndo entregar para o moço. E você acredita que  minha mãe nem viu minha vó fazer essa arte?
-Vó?! Porquê...
-Seu avô me deixou algumas pistas e disse que precisava de ajuda para lembrar o caminho de casa. Ele precisa lembrar de mim... É só isso o que ele precisa...
Dizia minha avó acariciando minha cabeça com um sorriso.
-Mas como você sabe que tem que dar para aquele moço? Perguntei preocupada com aquele pertence.
-Aquele moço vai para o quarto 203. Lá ele vai descobrir um pouco sobre...
-BOA SORTE! Gritou alguém na recepção.
Junto com minha mãe saindo do banheiro dizendo que estava na hora da vovó tomar a água da fonte de Vichy.


- Jaqueline! Não preciso dessas coisas minha filha...
- Precisa sim dona Margarida!

Então, depois de toda aquela enrolação, resolvemos dormir e aquele assunto ficou no ar.

Na manhã seguinte, estávamos indo para a Fazenda Bomba, onde tinha várias fontes de águas iguais aquela que tem em Vichy. Quando saí para ver o quintal vi um antigo ex-colega, o Rafael, vulgo Roger. Ele estava todo desajeitado tentando arrumar aquela câmera fotográfica dele derrubando um guarda-chuva no chão.

Eu ri dele e fui atrás para ver se ele me reconhecia.
Enquanto estava indo atrás dele vi uma coisa muito... muiito.. estranha. Estranha? Algo desconhecido eu diria... mas...
-Ai que lindooo! O Rafa precisa ver isso.

Acho que na próxima página desse diário ele continuará essa história.
Foi bom invadir esse espacinho.

;*



Continua...



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A moça do quarto 203 | A. V. 6

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

(Autor: Rodrigo Maia)

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Cheguei pelo corredor escuro ao temível quarto 203.

Desconfiado, abri lentamente a porta. Vai saber né?
Acendi a luz e fiz um “grhum- grhum” com a garganta, para me certificar se havia alguém lá.
Senti o ar meio pesado...
Calma, sou alérgico, lembra?
O ar estava mofado e parecia que ninguém limpava lá há anos. Logo escutei um som de gota caindo, fui devagar para o banheiro e acendi a luz do banheiro como se o interruptor estivesse quente. Vi a torneira pingando e fechei-a. Se eu fosse você iria ver a torneira do seu banheiro agora.


Brincadeiras à parte ...

O mais interessante é que mesmo cético eu me pegava querendo acreditar em algo.

Bom, dei uma sopradinha nos móveis, empurrei a poeira com a mão e sentei na cama. Abri minha mochila, tirei as pilhas da minha câmera e coloquei na tomada pra carregar.
“Droga! Eles têm o interruptor novo aqui.. cadê o adaptador... hmmmm”

Depois troquei de roupa, coloquei o celular em cima do criado, peguei meu diário de bordo pra escrever tudo isso que estou escrevendo e me deitei com as mãos atrás da cabeça. Comecei a lembrar da caminhada que tive pra chegar até aqui no hotel. Foi bem interessante. Fiquei rindo internamente e pensei nas coisas que vi e ouvi: “Ai, ai... Até parece!”... ATCHIM!

É, o ar estava realmente com cheiro de mofo. Logo peguei no sono e tive um sonho.


...


O Sonho


Comecei a sonhar. Parecia manhã. Abri meus olhos e tudo estava bem claro e embaçado, até que foi tomando forma. Logo senti cheiro de água com sal, aquele cheiro que sentimos quando vamos para o litoral. É um ar diferente. Sentei-me num chão que era de madeira e rangia muito. Percebi que o chão estava balançando bem lentamente. Logo entendi que estava num navio.
Era um navio bem rústico, mas infelizmente não me lembro de muitos detalhes. No navio havia uns insetos que nunca tinha visto. Lembrava um pouco uma joaninha com alguns detalhes a mais nas costas. Nos seus olhos tinha um tipo de pedra com oito lados que também nunca vi; um verde meio fosco, mas alguns cantos da pedra brilhavam como se não fosse fosco.

Fiquei olhando para os insetos e o som deles estava aumentando gradativamente, tinha insetos andando e voando, era como o som do bater de asas dos pardais quando disparam a voar do nada, um som de metais pequenos batendo no chão, como perninhas de insetos e tive a impressão de ouvir uns pequenos gemidos como de morcegos dentro de uma caverna.
Saquei minha câmera e comecei a tirar fotos desses insetos naquele navio rústico. De repente uma neblina de cor rosa ou roxo (não me lembro) tomou conta do navio.

E ouvi um outro som no meio da neblina. Olhei para a janelinha do convés e vi que parecia ser uma bela moça que estava lá. Ela parecia me pedir ajuda. Não lembro suas palavras, mas ela estava tão longe de mim que parecia sussurrar em meu ouvido. Era como um sussurro junto de eco misturado com os sons dos insetos. Comecei a imaginar no porque dela estar pedindo ajuda.

Bom, deixa eu abrir um parênteses aqui. Toda vez que sonho e começo a pensar no sonho, o meu pensamento logo vira real. Bom, essa é a explicação que me dei no fim deste sonho.

Voltando...

Pensei: “Será que ela se escondeu de algum monstro marinho gigante?”
Puxa pra quê, né? Quando pensei nisso no meio do nevoeiro eu vi um enorme vulto vindo de trás do navio, atrás do convés. O vulto foi ficando nítido e vi que era uma grande boca de um tipo de monstro marinho. O monstro foi se aproximando e o navio foi entrando em sua boca junto com todos. Eu gritei, mas não saía som. Corri, mas era em câmera lenta, mas parecia que estava no mesmo lugar sempre. Tudo foi escurecendo, olhei para cima e via a boca do monstro nos cobrindo... “Preciso sair daqui! Preciso sair daqui! Preciso sair daquiiiiii!”

...


Acordei! Ufa! Com os olhos arregalados, olhando pro teto escuro do quarto 203, me conformava por pensamento: “Foi um sonho? Ééé.. foi um sonho.. que bom.”

Fui cerrando os olhos de novo, mas não cerrei totalmente porque eu estava olhando para um feixe de luz roxo no teto e meus olhos focaram em umas poeirinhas luminosas meio rosa na frente do feixe de luz. A poeirinha e o feixe de luz tinham um trajeto em comum, fui olhando pra ver de onde vinham e vi que vinham da minha cama, ou melhor, debaixo dela (pelo menos o feixe de luz eu tinha mais certeza).

Imaginei que fosse o celular, então me inclinei para ver em baixo da cama o que era aquela luz. Quando comecei inclinar escutei um sussurro bem próximo e sem ecos me dizendo: “Vai me ajudar?”

Mano! Foi aí que dei um grito e saí correndo com o lençol que me cobria pro corredor. Não sei como abri a porta tão rápido. Ainda meio cético, fui olhar na fechadura pensando que deve ser coisa da minha cabeça. Olhei na fechadura e ouvi um som de porta batendo vindo debaixo da cama, ao mesmo tempo que a porta bateu, a luz se acabou. Levei um susto mais discreto e me virei, encostando-me na parede do corredor. Pensei em chamar alguém do hotel, mas meu orgulho falou mais alto e resolvi entrar no quarto novamente.
Quando entrei vi meu celular no chão aceso. Aí aliviei... “Poxa, tô cansado mesmo... Era apenas o meu celular no chão.”

Bom, a partir daí dormi mais tranquilo.




Fui acordando no dia seguinte ao som de pássaros, cavalos andando na rua, sino da Maria Fumaça junto de sua sirene nada escandalosa. E acordando fui falando com a voz meio grogue: “Era só o celular no chão... celular no chão...”

Rapidamente me levantei assustado e não lembro se disse ou se pensei: “O quê? Eu deixei o celular em cima do criado!” Confuso fiquei pensando: “Ah não... isso é demais!”

Peguei minhas coisas para cair fora dali... “Até onde vai o bom senso dessas pessoas para manter o turismo?”

Fui socando as coisas na minha mochila, quando parei para olhar para janela. Vi algo que nunca tinha visto na minha vida, assim pessoalmente. Estava tão fácil assim na frente da minha janela algo tão belo e raro.

Continua...

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1º Temporada - Contos da Aldeia Vila Verde: 

Ep. 6: A moça do quarto 203 << Você está aqui




O hotel, a torre e o quarto | A.V. 5

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

(Autor: Rodrigo Maia)
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Terminei de atravessar a ponte e cheguei em um bairro chamado Estação. Acho que tinha esse nome por causa da estação e da maria fumaça que tinha no fim da rua.

Era uma rua bem larga dividida em outras três por uns canteiros de grandes árvores. Alguns canteiros tinham uma mão de pedra gigante parecendo proteger aquela fileira de árvores.

Fui seguindo as placas até chegar em uma rua que era paralela ao trilho da Maria Fumaça. No finzinho da tarde chuvosa, logo vi uma torre bem alta encoberta por nuvens, vi também a entrada para o hotel. Limpei os pés, fechei o guarda-chuva e logo entrei no hotel, que era aparentemente normal. Estava com cheiro de grama molhada lá dentro, tinha também algumas plantas, um chão xadrez, mas eram losangos ao invés de quadrados. O teto era bem alto e tinha uma escada de madeira bem grossa. Tinha também um mural com eventos, fotos e cartaz. Fui ao recepcionista vestido de vermelho com um chapéuzinho engraçado perguntar como era o pagamento, preços e afins.

O recepcionista me cumprimentou e tirou de baixo do balcão uma tabela de preços. Vi vários preços parecidos, mas no segundo andar tinha um quarto absurdamente barato. Perguntei se o preço estava certo, e ele me respondeu: -Claro!

Eu: -Mas porque esse é tão barato?

O recepcionista pegou o óculos que estava pendurado no pescoço, olhou franzindo a testa e apontando o dedo na tabela me respondeu: -O senhor já viu esses outros quartos do mesmo andar? Estão com preços ótimos.

Bom, como não sou um cara rico, respondi: -Acho que vou querer esse quarto barato mesmo.

Aí meio assustado, o recepcionista me disse: -Acredite em mim. Não vai querer ficar lá.

Bom, pera aí? Desde quando um hotel nega um quarto pro seu cliente? Só se esse recepcionista for um sabotador contratado pela concorrência. Pensei isso e logo perguntei porque eu não iria querer esse lugar, e ele olhando pra mim com o óculos escorregando pelo nariz me disse: -Posso te contar vários relatos de hóspedes que passaram a noite lá.

Em meio ao som da chuva e clarões de relâmpagos, pensei comigo: -hmmm deve ser coisa desses hotéis de cidade turística..

Falei para ele que não precisava contar porque eu iria ficar ali mesmo, no quarto barato. O engraçado é que quando falei isso deu uma trovoada forte. Parecia coisa de terror. Pensei comigo: Nó! Nunca mais... (rs)

O recepcionista pega a chave empoeirada daquele quarto  e respira bem fundo como quando alguém prepara para dar um discurso. É, ele parecia bem afim de contar as histórias.
... eles podiam ouvir risadas de crianças, mas os relatos mais antigos dizem ter ouvido um choro de um bebê.
Bom, ele me disse a história de uma bela jovem ruiva vestida com algo que parecia uma camisola que aparecia no segundo andar pedindo ajuda para tirá-la de lá, porque o pai dela precisava lembrar quem ela era. Depois disso ela desaparecia. O recepcionista me disse que isso tem se repetido nos últimos 10 ou 15 anos, não me lembro. Antes disso, eles podiam ouvir risadas de crianças, mas os relatos mais antigos dizem ter ouvido um choro de um bebê.

-Ah e também já ouviram som de espadas, gritos e...

Interrompi o recepcionista dizendo: - Errr.. estou um pouco cansado moço. Acho que não vou ver nada de tão cansado que estou. Por favor, me dê a chave desse quarto.

Poxa, para minha surpresa ele silenciou e me deu a chave sem alterar o preço, ou seja, de fato o preço daquele quarto era barato.

Virei e me deparei com um hóspede que me disse logo: -Você não tá achando que é um mito para atrair turistas, está?

Respondi meio sem graça para aquele hóspede asiático de olhos puxados: -Hmmm, eu acho que sim...

O asiático me disse com uma convicção com um tom de fanático, como se estivesse defendendo um herói de gibis: -Não! Se fosse um mito ele não cobraria tão barato.. eu desisti de aluga-lo quando pensei nisso...

Eu: -Mas eu estou cansado, já estou vendo coisas desde a ponte desse bairro...

Um hóspede mais idoso gritou: -Zé menininho? É ele que você viu?

Eu virei e vi um velhinho andando bem engraçado com uma bengala em minha direção de chapéu dos anos 50 com um óculos fundo de garrafa e virando lhe disse: -Zé quem?

Velho da bengala: -É! Quando a gente vê ele embaixo da ponte, ele pula no rio.

Eu: -Não! O que eu vi era bem mai..

Ops! O que eu to fazendo? Eu não deveria ter comentado isso, porque eu até então estava cético. Não acredito que eu ia falar que vi um monstro gigante. ¬¬

Mas quando pensei gigante, alguém falou a mesma palavra enquanto pensava. Era uma senhorinha de cadeira de rodas sendo empurrada por uma garotinha pelo corredor.

Senhorinha: -Você viu só essa criatura, mais nada junto com ela?

Fiz uma cara de ‘hã’ e ‘não é possível’...

Senhorinha: Quando o vi, vi logo em seguida um grande navio passando por cima da ponte...

Logo chega uma mulher tomando o lugar da garotinha dizendo: -Já chega mamãe, deixa o moço em paz, depois você conta suas lendas.

E foi empurrando a senhorinha que tentando virar para trás gritou para mim: -Meu marido está naquele navio! Eu ouvi ele me chamar de lá! Era ele! Era ele! Era ele!

Olhei para os outros perto e todos estavam com uma cara espantada. Pedi licença para todos e peguei meu guarda-chuva com minha mochila para subir as escadas. Quando me virei senti algo agarrando minha perna e: -Ueeei!!

Levei um susto meio tímido, mas quando vi era a garota que empurrava a senhorinha. Ela deu uma risada por causa do meu susto e fiquei mais tranquilo em ver aquele sorriso de criança com alguns dentes crescendo e outros faltando. Ela me disse: - Minha vó disse para dar isso pra quem fosse dormir no quarto 203, que um dia você iria entender.

Eu vi que era um colar com um pingente com fotos. Não tinha como falar não para aquela garotinha, então agradeci e peguei o colar. Assim que peguei, ela saiu correndo toda espoleta para trás da perna da mãe com a mão na boca olhando timidamente para mim. Em seguida vi a avó de cadeira de rodas que chegava perto dela para fazer um cafuné.

Olhei para o colar, guardei na mochila e respirei dando aquela olhada pra cima com cara de ‘ai ai’. Comecei a subir a escada e ainda ouvi alguém gritar: -Boa sorte!

Eu agradeci sem ver quem era e continuei subindo.

Cheguei pelo corredor escuro ao temível quarto 203.

Continua...

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O velho homem - AV [iv]

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

(Por Rodrigo Maia)
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Foto tirada por Dadah Maia em Águas do Viana


Roger
(eu): "Depois de tanto estudar e trabalhar, chegou a tão esperada férias. Resolvi sair para conhecer uma nova cidade, porque gosto muito de sair fotografando novos lugares(...) Bem cedo cheguei a um lugar de grandes colinas(...)conhecido popularmente como Terra das Águas."

Sr. Divino (Velho da aldeia): "Vc deveria conhecer melhor essa cidade. Na verdade ela é um mundo novo, cheio de coisas diferentes para descobrir."



Roger: "Claro que fiquei desconfiado, afinal cidades de interior sempre inventam histórias para ter turismo (...)"



Sr. Divino: “A Montanha Sagrada fica perto daqui, (...) no bairro maish antigo da cidade (...)"



Roger: "E para onde vou é numa cidade vizinha chamada Águas do Viana."



velho_homem_by_rodrigo_maia.jpg

Saindo da lojinha de Seu Divino, levantei minha mochila pra me abrigar quando ele me cutucou dizendo:
“Leva esse guarda-chuva, quando parar de chover vc me traz de volta.”
Eu não quis incomodar, mas ele insistiu e eu agradeci depois.
Pensei comigo: “Puxa não queria voltar lá... quero ir de manhã nessa tal de Montanha Sagrada e fotografar esses insetos”.


Logo tirei do meu bolso de trás um bloquinho para anotar o nome dessa lojinha (tinham várias lojinhas parecidas com telhados verdes). Então anotei o nome da loja. 

Olhei pra ver se estava certo o nome e me virei para ir em busca de algum hotel para ficar, mas quando me virei, me deparei com um velho homem baixinho, com uma grande barba branca meio amarelada, careca, segurando seu chapéu com as duas mãos na barriga e me olhando com uma cara de curioso. Já fui logo balbuciando palavras dizendo que não tinha moedas trocadas para ele, ou o que quer que seja o que ele queria, pois estava chuviscando e eu queria logo sair da rua, mas ele me interrompeu perguntando de forma estranha:

"Onde vais filho de Guataguazes?"

Fiz uma cara de 'hã' e fui andando ignorando-o, mas o velho começou a andar junto comigo e insistindo me perguntou:
"Você não precisa de ajuda para fotografar este lugar?"

Parei de andar e olhei para atrás em direção ao chão a esquerda e fiquei perplexo: "Como...?"
Velho Homem: "Não precisas pagar, comigo vais mais rápido... Pra quê pesquisar lugares? Já conheço tudo por aqui.. os atalhos, saídas e entradas.."

Fiquei tentado em aceitar, pois ele tinha uma voz persuasiva, bem convincente. Mas fiquei com o pé atrás por ele saber o que eu queria fazer e também minha mochila estava realmente pesada, precisava descansar, carregar a bateria da câmera e comer algo. Bom, me virei de frente para ele e comecei a explicar isso, mas ele me interrompeu de novo: "Ouvistes acerca da Montanha Sagrada? Certamente ouvistes falar."
Respirei pra responder, mas logo ele continuou: "Sabes do Vale dos Pinheiros? Que tal Solar dos Lagos? De certo não lhe disseram sobre o lugar chamado Porta do Céu, disseram?"
Pensei comigo: "Puxa, onde esse cara quer chegar? O que ele quer realmente"

Velho Homem: "Mas nenhum lugar se compara ao que encontrarás na Montanha Sagrada..."

O velho me alugou mesmo, precisei parar de dar ouvidos a ele e ainda por cima a chuva estava apertando. Até passou em minha cabeça em dar carona pra ele no meu guarda-chuva, aliás é uma coisa que deveríamos começar a fazer mais. Olhando aquele velho charlatão achei que não valeria a pena. (haha)

Deixei o velho homem falando sozinho e dando lhe as costas acelerei os passos para poder seguir minha vida em frente.

(Se um dia vc se deparar com ele, espero que faça o mesmo.)

Acelerando pensei: "Não posso perder o foco...Bom, o que estava procurando mesmo? Ah! Um hotel!"

Caminhei e olhei várias placas, mas os hotéis do centro da cidade me pareciam ser caros, na verdade nem conferi os preços, só julguei. Isso me levou a procurar uns hotéis mais distantes, esses de bairros.

Andei mais um pouco e vi placas com vários nomes, mas algumas construções me chamaram a atenção, era a prefeitura e o fórum da cidade. Elas tinham uma arquitetura diferente. Andei até lá para ver de perto, mas como estava chovendo ficava meio difícil de ver perfeitamente. No meio desse momento de apreciação um estrondoso trovão grita junto com aquele clarão que consequentemente fez uma placa na rua de cima brilhar. Subi as escadas para ver e logo selecionei dentre os vários nomes Hotel Torre Alta. "Agora tá ficando bom" - pensei comigo.

Vi que tinha uma pequena ponte adiante e caminhei até ela.

Antes fosse só a chuva, mas começou aparecer uma neblina perto dos rios da cidade no final daquela tarde.
Estava ficando meio escuro quando comecei a atravessar a ponte. Quando estava chegando no meio da ponte, meu tênis desamarrou e por isso me abaixei com o guarda-chuva preso no pescoço para amarrar. De repente vi que a neblina ficou mais densa e a chuva parou. Um som estranho escutei. Como se fosse aquele brinquedo da barca dos vikings de parque de diversões misturado com um som de baleia, mas o som parecia bem distante. 

Escutei um barulho de madeira rangendo, como aqueles sons que ouvimos em filmes de piratas. Logo escutei um som de alguém ou algo saindo da água, mas saindo com muita violência. Agachado no chão senti uma gota grossa cair na minha nuca, logo depois caiu outra na minha mão esquerda, em seguida continuou caindo pela calçada e quando as gotas começaram a atravessar a rua até a outra calçada, senti que uma sombra passava por mim, me levantei deixando o guarda-chuva cair e logo olhei para cima, foi quando vi um vulto enorme escuro, que tive a impressão de ter visto um olho brilhante, mas tudo isso que estou descrevendo aconteceu muito rápido, só que para mim parecia que era em slow motion. Por cima, este vulto atravessou para o outro lado da ponte e caindo no rio fez um barulho que nunca ouvi. Era como se fosse aquele amigo seu gordinho pulando na piscina, mas com o som bem amplificado! Logo depois voltou a chover. 


Fiquei ali parado uns instantes tomando chuva...
Parei...
Pensei...
Olhei para trás...
Olhei para cima...
Fiquei parado...


"Aaaa, vc tá te brincadeira comigo.. Preciso dormir"

Peguei o guarda-chuva, minha mochila e fui embora tentando me explicar o ocorrido cientificamente. Pior que sempre fazemos isso quando não queremos entender algo que foi relativamente claro.
Mas mesmo assim, preferi esquecer e seguir adiante...

É! Esquecer entre aspas né? Comecei a ficar mais curioso e ao mesmo tempo com medo da cidade.

[Continua]

No próximo episódio...

"Cara que hotel muito locooo! E sinistro tbm! O recepcionista parecia bem afim de contar histórias de outros turistas que estiveram lá(...)
Perguntei para um dos hóspedes que encontrei no caminho: "O que é aquela torre afinal?"
O hóspede disse: "Não tenho certeza, mas alguns amigos que já estiveram aqui me disseram que lá..."
Não perca!

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