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O velho homem - AV [iv]

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

(Por Rodrigo Maia)
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Foto tirada por Dadah Maia em Águas do Viana


Roger
(eu): "Depois de tanto estudar e trabalhar, chegou a tão esperada férias. Resolvi sair para conhecer uma nova cidade, porque gosto muito de sair fotografando novos lugares(...) Bem cedo cheguei a um lugar de grandes colinas(...)conhecido popularmente como Terra das Águas."

Sr. Divino (Velho da aldeia): "Vc deveria conhecer melhor essa cidade. Na verdade ela é um mundo novo, cheio de coisas diferentes para descobrir."



Roger: "Claro que fiquei desconfiado, afinal cidades de interior sempre inventam histórias para ter turismo (...)"



Sr. Divino: “A Montanha Sagrada fica perto daqui, (...) no bairro maish antigo da cidade (...)"



Roger: "E para onde vou é numa cidade vizinha chamada Águas do Viana."



velho_homem_by_rodrigo_maia.jpg

Saindo da lojinha de Seu Divino, levantei minha mochila pra me abrigar quando ele me cutucou dizendo:
“Leva esse guarda-chuva, quando parar de chover vc me traz de volta.”
Eu não quis incomodar, mas ele insistiu e eu agradeci depois.
Pensei comigo: “Puxa não queria voltar lá... quero ir de manhã nessa tal de Montanha Sagrada e fotografar esses insetos”.


Logo tirei do meu bolso de trás um bloquinho para anotar o nome dessa lojinha (tinham várias lojinhas parecidas com telhados verdes). Então anotei o nome da loja. 

Olhei pra ver se estava certo o nome e me virei para ir em busca de algum hotel para ficar, mas quando me virei, me deparei com um velho homem baixinho, com uma grande barba branca meio amarelada, careca, segurando seu chapéu com as duas mãos na barriga e me olhando com uma cara de curioso. Já fui logo balbuciando palavras dizendo que não tinha moedas trocadas para ele, ou o que quer que seja o que ele queria, pois estava chuviscando e eu queria logo sair da rua, mas ele me interrompeu perguntando de forma estranha:

"Onde vais filho de Guataguazes?"

Fiz uma cara de 'hã' e fui andando ignorando-o, mas o velho começou a andar junto comigo e insistindo me perguntou:
"Você não precisa de ajuda para fotografar este lugar?"

Parei de andar e olhei para atrás em direção ao chão a esquerda e fiquei perplexo: "Como...?"
Velho Homem: "Não precisas pagar, comigo vais mais rápido... Pra quê pesquisar lugares? Já conheço tudo por aqui.. os atalhos, saídas e entradas.."

Fiquei tentado em aceitar, pois ele tinha uma voz persuasiva, bem convincente. Mas fiquei com o pé atrás por ele saber o que eu queria fazer e também minha mochila estava realmente pesada, precisava descansar, carregar a bateria da câmera e comer algo. Bom, me virei de frente para ele e comecei a explicar isso, mas ele me interrompeu de novo: "Ouvistes acerca da Montanha Sagrada? Certamente ouvistes falar."
Respirei pra responder, mas logo ele continuou: "Sabes do Vale dos Pinheiros? Que tal Solar dos Lagos? De certo não lhe disseram sobre o lugar chamado Porta do Céu, disseram?"
Pensei comigo: "Puxa, onde esse cara quer chegar? O que ele quer realmente"

Velho Homem: "Mas nenhum lugar se compara ao que encontrarás na Montanha Sagrada..."

O velho me alugou mesmo, precisei parar de dar ouvidos a ele e ainda por cima a chuva estava apertando. Até passou em minha cabeça em dar carona pra ele no meu guarda-chuva, aliás é uma coisa que deveríamos começar a fazer mais. Olhando aquele velho charlatão achei que não valeria a pena. (haha)

Deixei o velho homem falando sozinho e dando lhe as costas acelerei os passos para poder seguir minha vida em frente.

(Se um dia vc se deparar com ele, espero que faça o mesmo.)

Acelerando pensei: "Não posso perder o foco...Bom, o que estava procurando mesmo? Ah! Um hotel!"

Caminhei e olhei várias placas, mas os hotéis do centro da cidade me pareciam ser caros, na verdade nem conferi os preços, só julguei. Isso me levou a procurar uns hotéis mais distantes, esses de bairros.

Andei mais um pouco e vi placas com vários nomes, mas algumas construções me chamaram a atenção, era a prefeitura e o fórum da cidade. Elas tinham uma arquitetura diferente. Andei até lá para ver de perto, mas como estava chovendo ficava meio difícil de ver perfeitamente. No meio desse momento de apreciação um estrondoso trovão grita junto com aquele clarão que consequentemente fez uma placa na rua de cima brilhar. Subi as escadas para ver e logo selecionei dentre os vários nomes Hotel Torre Alta. "Agora tá ficando bom" - pensei comigo.

Vi que tinha uma pequena ponte adiante e caminhei até ela.

Antes fosse só a chuva, mas começou aparecer uma neblina perto dos rios da cidade no final daquela tarde.
Estava ficando meio escuro quando comecei a atravessar a ponte. Quando estava chegando no meio da ponte, meu tênis desamarrou e por isso me abaixei com o guarda-chuva preso no pescoço para amarrar. De repente vi que a neblina ficou mais densa e a chuva parou. Um som estranho escutei. Como se fosse aquele brinquedo da barca dos vikings de parque de diversões misturado com um som de baleia, mas o som parecia bem distante. 

Escutei um barulho de madeira rangendo, como aqueles sons que ouvimos em filmes de piratas. Logo escutei um som de alguém ou algo saindo da água, mas saindo com muita violência. Agachado no chão senti uma gota grossa cair na minha nuca, logo depois caiu outra na minha mão esquerda, em seguida continuou caindo pela calçada e quando as gotas começaram a atravessar a rua até a outra calçada, senti que uma sombra passava por mim, me levantei deixando o guarda-chuva cair e logo olhei para cima, foi quando vi um vulto enorme escuro, que tive a impressão de ter visto um olho brilhante, mas tudo isso que estou descrevendo aconteceu muito rápido, só que para mim parecia que era em slow motion. Por cima, este vulto atravessou para o outro lado da ponte e caindo no rio fez um barulho que nunca ouvi. Era como se fosse aquele amigo seu gordinho pulando na piscina, mas com o som bem amplificado! Logo depois voltou a chover. 


Fiquei ali parado uns instantes tomando chuva...
Parei...
Pensei...
Olhei para trás...
Olhei para cima...
Fiquei parado...


"Aaaa, vc tá te brincadeira comigo.. Preciso dormir"

Peguei o guarda-chuva, minha mochila e fui embora tentando me explicar o ocorrido cientificamente. Pior que sempre fazemos isso quando não queremos entender algo que foi relativamente claro.
Mas mesmo assim, preferi esquecer e seguir adiante...

É! Esquecer entre aspas né? Comecei a ficar mais curioso e ao mesmo tempo com medo da cidade.

[Continua]

No próximo episódio...

"Cara que hotel muito locooo! E sinistro tbm! O recepcionista parecia bem afim de contar histórias de outros turistas que estiveram lá(...)
Perguntei para um dos hóspedes que encontrei no caminho: "O que é aquela torre afinal?"
O hóspede disse: "Não tenho certeza, mas alguns amigos que já estiveram aqui me disseram que lá..."
Não perca!

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Episódios
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